sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

- Mil Agulhas-


Um carro freia gastando pneus e expondo vozes na madrugada fria que toma conta da rua depois da minha casa, deveras minha, na verdade apenas me guarda e abriga enquanto conflito e deságuo as olheiras que em mil voltas na cama proclamam insistência em me acompanhar. Olho para o relógio e vejo que as horas passaram rapidamente, meus olhos parecem estar cheio de areia, começo a esfregar repetidas vezes. Outrora eu fantasiaria essas trocas sibilantes tão comuns aos sons da minha vida mineiroca que ficou pra trás, mas hoje não, estou ocupada demais com papéis e trabalhos, adiando meus próprios projetos e elaborando as desculpas que usarei pra desfazer expectativas que criei daquela típica forma efusiva. Aquelas expectativas, ajudar mais o próximo, comprar algo de grande valor ou não, conhecer a Europa, 21 anos em dezembro... Aquele silêncio mórbido da madrugada, 'Aquele', À noite, a escuridão, onde eu me encontro com meus próprios pensamentos, sem atrasos e com uma regularidade incrível. Qualquer pensamento vira um turbilhão de infindáveis sonhos e fantasias.Pois cá estou, saboreando o esgotamento diante da fadiga que me consome por essas tais responsabilidades. Alma do outro mundo representada em valores, em números e em obrigações. Meu olhar mirando o teto do quarto, e minhas estrelinhas brilham, elas sempre brilham, minha janela está aberta.
Eu?
-Completamente sem sono.
A noite já voltou a me brindar silêncio, como se fizesse questão de mostrar o quão sozinha eu caminho por aqui. Ainda continuo na esperança que a partir de alguns minutos ou segundos você apareça, dando-me a confortável sensação telúrica, e não o descaso insano do rígido estremecer de minhas pupilas dilatadas. Quando você chegar, quero estar pronto e alerta, para que eu não venha sentir de novo esta angústia este descaso, quero poder deitar e dormir, simplesmente dormir, descansar e acordar no outro dia, leve, não como esta noite em que não esteve presente e me deixou só.
Duas da manhã e eu estou criando a coragem para discar seu número e deixar que você saiba qual é o motivo da minha insônia, tão frequente nos últimos dias.
Eu preciso ouvir sua voz e as palavras com as quais me xingará por te ligar de madrugada,e então pedir que você fique em silêncio e apenas ouça tudo o que preciso lhe dizer desde a primeira vez que trocamos sorrisos.Eu provavelmente vou gaguejar e minhas frases serão ambíguas, mas eu vou fazer de tudo para colocar em palavras as borboletas em meu estômago quando te vi pela primeira vez. Eu vou tentar encontrar uma forma de descrever a paz que encontro em seus olhos e em seu sorriso, assim como em sua voz. Você me ouvirá dizer que você mudou minha vida e nada poderia soar mais clichê que isso, mas eu sei que eu não encontrarei uma forma mais direta de dizer isso. Eu falarei por mais alguns minutos esperando que você não tenha voltado para a cama e então eu vou respirar e esperar que você se expresse, orando para que diga, que eu disse tudo o que você desejava ouvir da minha boca, pois esse amor é recíproco. Mas agora já passa das três da manhã e eu não vou discar seu número...
Bom, eu, eu vou caminhando, a passos preguiçosos, custosos, que hora parecem não levar a lugar nenhum, mas que cedo ou tarde vão virar alguma esquina que me faça sorrir sem doer outra vez...